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Mostrando postagens de outubro, 2020

As dores nessas ruas

Tantas almas perdidas nas ruas dessa cidade. Tantos corações pisoteados. Barrigas roncando, bocas para alimentar. Tanta gente morrendo de frio. São tantas dores diferentes.  Quem é você para julgar as dores nessas ruas? Quem é você para dizer como se deve sentir?   As pessoas passam por nós e nem vemos seus semblantes. Nem notamos uma que deixou a lágrima cair enquanto ia em pé se equilibrando no ônibus. Nem percebemos a cara de desespero de uma que havia acabado de sair de casa depois de ver seu pai levantar a mão para a sua mãe.  Também não notamos uma pessoa furiosa passando do nosso lado, ela havia pego o namorado no flagra com outra. Ninguém reparou no meu rosto angustiado, tinha sido demitida. Também não notaram o seu de alegria, havia sido promovido. Quem somos nós para falar das dores dos outros se nem a nossa entendemos as vezes? Letícia Pontes, Outubro de 2020

Desespero

Ela leu em um livro que deveria fazer um pacto consigo mesma. Tinha algo sobre sangue, então cortou a palma da mão e recitou o verso que deveria. Esperou por algumas horas, afinal queria que tivesse efeito. Nunca havia entendido sobre religiões então não fazia ideia de onde pertencia aquele livro. Não sabia à que tipo de deuses e entidades deveria recorrer, então o que viesse era lucro. Ela respirou fundo a vida toda. pisou em ovos a vida inteira, desde que se entendia por gente que havia tentado achar seu lugar e agora estava arriscado tudo e qualquer coisa. Nada estava funcionando. Naquela semana dormiu mal, como todas as outras. afinal, era sempre assim, não achava paz em seu dia a dia nem conseguia sequer entender quem era e o que queria e nem mesmo se aceitar. Aceitar o que se estava perdida em si?   Letícia Pontes, Outubro de 2020

Danificado

  Essas cicatrizes  internas são piores dos que as que me deixou na pele. Você entende o que fez comigo? Você imagina o quão profundo isso foi? Sabe os danos permanentes que ficou aqui? Não, você não faz a menor ideia, não é? Eu tive que mudar , não apenas de cidade, mas quem eu sou. Tive que parar de acreditar, porque doía demais. Eu tive que me refazer, do zero. De novo e de novo e de novo. Quantas madrugadas em claro, quantas lágrimas derramadas, quantas horas perdidas em pensamentos e ainda assim essa ferida enorme que não consigo cicatrizar. Ainda assim, uma dor profunda que remédio nenhum conseguiu aliviar ainda.   Letícia Pontes

Meu perdão

Mais uma vez você esteve aqui, como disse que faria, pedindo perdão desesperadamente. Te deixei chamar, gritar e chorar por longos minutos.Esse não foi um simples erro e você jura que pode conserta-lo. Não, meu bem. Você não merece meu perdão. Não importa quanto tempo estivemos juntos, essa não é a segunda chance que te dei, já perdi as contas. Você errou demais, o tempo todo e desde o começo.  Você fala que é só isso que consegue fazer, mas isso é só uma desculpa que você da à si mesma. Assim você acaba não crescendo, não sai do lugar e continua sendo sempre essa pessoa triste e sozinha. Letícia Pontes

Seu perdão

Uma última vez estou aqui, em meio à chuva parada no seu portão para pedir mais uma chance. Já gritei e sei que você me ouviu, mesmo com a chuva batendo em seu telhado e essa TV ligada. Um erro pode ter conserto, não? Um pequeno erro não merece o seu perdão? Será que depois de tanto tempo juntos, eu não mereço uma segunda chance? É, eu errei e foram várias vezes, você tem razão.  O que posso dizer, afinal? É só isso que eu sei fazer: errar. Letícia Pontes