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Mostrando postagens de outubro, 2019

Você que acha que me conhece, leia isso

Quem me conheceu na infância, desconheceu na adolescência, quem me conheceu na adolescência desconheceu na fase adulta. Estou em constante processo de mudança, estamos todos. Reencontrei um colega que eu conheci aos quinze anos de idade e ele em determinado momento me disse algo como: Mas isso não combina com você. Vamos rever todo o contexto. Conheci um rapaz em um cursinho que eu odiava e ia só por ir, eu tinha 15 anos de idade. Eu nunca tinha tido um namorado, estava no primeiro ano do ensino médio e detestava estudar. Eu não tinha nenhum objetivo de vida e era uma garota tentando me encaixar em algum grupinho escolar.  Aos 23 anos reencontro esse colega. Estou noiva, terminando minha faculdade, parei de tentar me encaixar em grupos e tenho diversos planos para o meu futuro. Formada como comissária, com o inglês bem mais avançado do que aos 15 anos e o espanhol quase fluente. Já planejando uma nova faculdade e com a mente aberta para aprender mil novas coisas a ...

Aos 15 anos

  Os olhos estavam inchados. Por chorar e por fumar. Vermelhos e inchados. Cabelo sujo de dias, grudava no rosto molhado de lágrimas. Ela estava parada de frente para o espelho depois de passar a tesoura de qualquer jeito tirando a parte loira do cabelo que era do ombro até a bunda. O loiro ressecado estava no chão e o preto natural estava na cabeça de forma desgrenhada. Estava mal e sozinha. Ouviu a louça voando no cômodo de baixo. prataria fazia barulho diferente então dessa vez sabia que os pais estavam brigando com louça. Era sempre a mesma coisa, traição, briga, porrada, ela e o irmão chorando e depois apanhando por absolutamente motivo nenhum.  Três batidas na sua porta. Pausa. Mais três batidas. Ela sabia que era seu irmão gêmeo. Abriu a porta e recebeu um irmão de cabelos negros e olhos inchados pelos mesmos motivos dela. Ele passou por ela e se jogou de cara na cama da menina. O quarto cheirava a comida, fumo e suor. Ela não saia daquele cômodo fazia mais...

Quem sou eu?

  Ela sentia como se estivesse em cima de uma montanha, sozinha, gritando ao vento, sua voz se perdendo e ninguém para ouvi-la. -Essa não sou eu. Ela gritava. Ninguém ouvia. Sussurrava para si mesma e sequer se ouvia. Segurou a cabeça entre as mãos e reafirmou a mesma frase que vinha gritando repetidas vezes para o mundo. -Essa não sou eu. As calças rasgadas, camisa negra, piercings tatuagens para esconder as cicatrizes, os sapatos imundos. Aquilo era só um papel de ovelha negra que vinah representando desde os 14 anos, mas ninguém notou na primeira lágrima porque notariam agora? -Essa não sou eu.  Ela sussurrava sozinha sentada na cadeira da mesa com a família gigante no jantar de Natal. Eles ignoravam-na e ela já estava acostumada. Falavam de política e história, mal sabiam que ela sabia disso mais do que eles. para eles, a garota deslocada que tinha terminado o ensino médio a força e agora trabalhava em um bar idiota. Mal sabiam que ela havi...

Você precisa gritar

  Lembro-me do medo e da dor que me causaram todos aqueles anos. Se eu pudesse voltar no tempo e falar para mim mesma que atitudes tomar, voltaria. Se eu pudesse me falar para não ficar calada, falaria.  Grite, menina, você precisa gritar. Coloque pra fora, não deixe fazerem isso com você.  Grite o mais alto que puder.  Você precisa pedir por socorro, porque ninguém vai adivinhar a sua dor. -Letícia Pontes

Monstros em baixo da cama

Nunca acreditei nos monstros em baixo da cama. Não acreditei em papai Noel, fada do dente, nada disso. Fui ensinada desde cedo que isso eram fantasias para deixar nossos dias mais coloridos, porque o mundo era severo. No mundo severo eu acreditava. Quando tinha ainda sete anos veio a primeira crueldade do homem em mim. Oito, nove, dez anos. O mundo só piorava e eu só tinha mais medo dos monstros que nunca estiveram em baixo da minha cama, ma estavam nas ruas, na casa do vizinho, na família e nos supostos amigos. Desconhecidos, conhecidos, íntimos ou não, e nunca dava para identifica-los assim de cara, era sempre quando já era tarde demais. Quase sempre eram do sexo masculino. Eram muitos monstros e eu era apenas uma criança e não sabia lutar. -Letícia Pontes

Doce juventude, amargo coração

   Houve uma época em minha doce juventude que eu achei que o amargo não viria. Mas quando dois tolos corações não se encontram em maturidade suficiente para encararem escolhas e consequenciais, o doce suave se transforma em amargo sufocante. Daqueles que precisamos cuspir porque não conseguimos engolir. Existe esse tempo na vida de todos, o tempo em que estamos tão seguros de que seremos felizes que os obstáculos parecem simples pedrinhas no caminho, que vamos chutando, chutando, até perde-las de vista porque elas simplesmente não tem importância.  De alguma forma uma pedrinha vira nossa primeira montanha.  Não estávamos preparados para uma montanha, e não sabemos lidar com aquilo. E quando vem mais uma, já estamos cansados, já estamos esperando que voltem a ser só pedrinhas. Dois corações cansados que não haviam entendido que juntos eram mais fortes para escalar a montanha, para encontrarem o que tinha do outro lado, para desfrutar daquilo e segu...

Sinceridade

Vamos ser sinceros um com o outro? Pelo menos agora depois de tantos anos, vamos ser sinceros? Nada daquilo nunca foi real. Eu era boba e vulnerável na minha adolescência de menina que nunca havia conseguido gostar de ninguém que também gostasse de mim. Ai você surge querendo provar algo pra si mesmo e fingiu ser tudo que eu queria. Eu realmente até hoje não entendi porque você passou meses me mostrando algo que não era e quando finalmente eu cedi, demorou 24 horas para você me dizer que não queria mais. Não é como se eu já tivesse te amado alguma vez, era só carência minha e babaquice sua, mas magoou ser usada. Você sabe que sou orgulhosa e não gosto de me sentir menos do que sou. Ninguém gosta. Queria que houvesse sinceridade aqui para eu sanar minhas questões internas tão mal resolvidas. Só que é impossível sermos sinceros um com o outro já que faz mais de cinco anos que nem ouço falar de você e nem quero ouvir. Já que só estou escrevendo em um papel e não falando co vo...

Morto

Um, dois, três dias sem comer. Bebeu pouca água, sentia a garganta queimar. Quatro horas da manhã. Levantu-se e fez cinco sessões de diversas abdominais. Sentia-se morto. Infelizmente não estava. Letícia Pontes

Melhor sozinho

Gustavo saiu de casa naquele dia sem intenção de voltar. Depois de 16 anos dentro da mesma casa vendo o pai violento e a mãe bêbada, percebeu que preferias as ruas e a liberdade que as drogas lhe davam. Pelo menos chapado ele não sentia dor em seu peito. Pelo menos chapado ele não chorava. Colocou na mochila, celular, fones, carregador, identidade, chiclete e só umas duas duas de roupa. Só tinha 300 reais, decidiu colocar em um saquinho plástico e esconder dentro da cueca. Assim não ia ser roubado e a chuva forte também não destruir seu dinheiro. Ele não tinha um guarda-chuva. O jeito era se abrigar em qualquer ponto de ônibus. Foi o que fez. acordou com o policial expulasndo-o de lá. Já era mais do que três da madrugada. Catou flores no canteiro de alguém e foi até o hospital. -Vovó, eu vou fazer igual a senhora disse. - Ele falava com a idosa. - Estou indo embora procurar meu destino. Por um milagre haviam deixado ele entrar, mas a enfermeira se mantinha dentro do quarto p...

Pastor de ovelhas

Não mais disposta a viver, ela correu até o quarto e se jogou de joelhos pedindo socorro ao único que poderia ouvi-la. Ela era cordeiro, cercada de lobos, mas com o Pastor mais valente que já existiu. O pastor ouviu seu pranto e lhe deu um novo pasto, longe de lobos. Pelo menos por enquanto. Letícia Pontes

Liçoes

  Não diga que foi em vão, quando você sabe que saiu dali mais forte. Você sabe que aquilo te ensinou muitas lições, sabe que saiu mais inteligente e pronta para enfrentar novas situações.  Não diga que foi perda de tempo, nunca é. Sempre saímos com algo.  Tudo é lição. Letícia Pontes