Ela sentia como se estivesse em cima de uma montanha, sozinha, gritando ao vento, sua voz se perdendo e ninguém para ouvi-la.
-Essa não sou eu.
Ela gritava. Ninguém ouvia. Sussurrava para si mesma e sequer se ouvia. Segurou a cabeça entre as mãos e reafirmou a mesma frase que vinha gritando repetidas vezes para o mundo.
-Essa não sou eu.
As calças rasgadas, camisa negra, piercings tatuagens para esconder as cicatrizes, os sapatos imundos. Aquilo era só um papel de ovelha negra que vinah representando desde os 14 anos, mas ninguém notou na primeira lágrima porque notariam agora?
-Essa não sou eu.
Ela sussurrava sozinha sentada na cadeira da mesa com a família gigante no jantar de Natal. Eles ignoravam-na e ela já estava acostumada. Falavam de política e história, mal sabiam que ela sabia disso mais do que eles. para eles, a garota deslocada que tinha terminado o ensino médio a força e agora trabalhava em um bar idiota. Mal sabiam que ela havia ganhado uma bolsa e fazia direito. Toda noite que saia achavam que era pra uma festa, nem se importavam em perguntar. Ela não se importava em dizer.
-Essa não sou eu.
Ela sabia que ela não era suas roupas, que ela não era as tatuagens que tinha e nem as notas baixas na época da escola. Ela sabia que não era um estorvo como sua mãe havia dito. Mas ela não sabia quem ela era. Não conseguia se encontrar, estava perdida e ninguém para ajuda-la?
-Essa sou eu?
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